segunda-feira, 11 de abril de 2011

Versos Íntimos

Vês!
Ninguém assistiu ao formidável
Enterro de tua última quimera.
Somente a Ingratidão - esta pantera -
Foi tua companheira inseparável!
Acostuma-te à lama que te espera!
O Homem, que, nesta terra miserável,
Mora, entre feras, sente inevitável
Necessidade de também ser fera.
Toma um fósforo. Acende teu cigarro!
O beijo, amigo, é a véspera do escarro,
A mão que afaga é a mesma que apedreja.
Se a alguém causa inda pena a tua chaga,
Apedreja essa mão vil que te afaga,
Escarra nessa boca que te beija!
                      Augusto dos Anjos
Nesse interessantíssimo poema, Augusto dos Anjos consegue
traduzir o mundo de sempre. No qual as Feras devoram impiedosamente
e, ainda se sentem dígnas de qualquer coisa por isso.
Um mundo onde se aplaude com as mesmas mãos que lançam pedras.
Onde a mesma boca que confirma é a primeira a negar.
Onde a mentira e a futilidade tornaram-se manchetes cotidianas.
Não se pode mais confiar em nada e nem em ninguém.
O mesmo que sorri, ataca-lhe pelas costas.
O mesmo que é beneficiado por uma escola, mata alunos indefesos
a sangue frio.
E as pessoas do mundo escarram na boca que as beija.
Lastimável!!!